terça-feira, 12 de agosto de 2008

Teu Riso

Tira-me o pão, se quiseres,

tira-me o ar,

mas não me tires o teu riso.


Não me tires a rosa,

a lança que desfolhas,

a água que de súbito

brota da tua alegria,

a repentina onda de prata

que em ti nasce.


A minha luta é dura

e regresso com os olhos

cansados às vezes

por ver que a terra não muda,

mas ao entrar teu riso

sobe ao céu a procurar-me

e abre-me todas as portas da vida.


Meu amor, nos momentos

mais escuros soltao

teu riso e se de súbito

vires que o meu sangue mancha

as pedras da rua,

ri, porque o teu riso

será para as minhas mãos

como uma espada fresca.


À beira do mar,

no outono,teu riso

deve erguersua cascata de espuma,

e na primavera,

amor,quero teu riso

como a flor que esperava,

a flor azul, a rosa d

a minha pátria sonora.


Ri-te da noite,

do dia, da lua,

ri-te das ruas tortas da ilha,

ri-te deste grosseiro

"rapaz" que te ama,

mas quando abro

os olhos e os fecho,

quando meus passos vão,

quando voltam meus passos,

nega-me o pão, o ar,

a luz, a primavera,

mas nunca o teu riso,

porque então morreria.

Pablo Noruda